Roberto Prado, 53 anos, Santos - São Paulo.
Publicou dois livros e é funcionário público. Talentoso escritor, tem vários de seus escritos publicados em revistas eletrônicas.
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Agentesevêporaí.
--- A gente se vê por ai! - Deu um sorriso, lindo, frio e fechou a porta sem dar um beijinho sequer em rosto, deixando como lembrança somente o seu perfume.
Parado com a cara na porta, ele sentiu que era o fim, fim de começo, começo sem porvir, fim,” the end”. Aspirou o perfume, tentou guardá-lo o maior tempo possível.
Trinta e cinco segundos, ainda assim amparado pela parede.
- A gente se vê por ai - repetiu baixinho, como que para assimilar o pé na bunda. - A gente se vê por aí.
Apertou o botão de chamada do elevador, mas resolveu descer os dez andares.
O toc-toc dos sapatos fazia eco nas paredes - Agentesevêporaíagentesevêporaiagentesevêporaíagentesevêporai - repetia, mascando as palavras como se fosse um chiclete de hortelã.
Seu sabor predileto sempre foi tutti-frutti.
No sétimo andar, as luzes estavam queimadas, acendeu o isqueiro para iluminar e aproveitou para fumar. De olhos fechados aspirou a fumaça, com um prazer quase sexual e pensou alto:
- O único prazer dessa noite.
Expirou a fumaça junto com um suspiro. Na segunda tragada, engasgou-se, tossiu e tossindo repetiu:
- Agentesevêporaíagentesevêporai.
Sem fôlego, cansado e frustrado chegou ao térreo. Carrancudo, deu boa noite ao porteiro, e saiu para rua com a certeza que o baiano estava rindo da sua cara.
- ”Agente se vê por ai” deve estar tatuado na minha testa!
Seguiu pela rua escura, uma brisa fresca anunciava uma chuva para logo. Foi andando em direção à sua casa.
- Agentesevêporaíagentesevêporaiagentesevêporaíagentesevêporai...
Quatro quarteirões depois começou um chuvisco que logo engrossou, encheu as ruas, encharcou a roupa, os sapatos, a carteira com o dinheiro e os documentos do carro...
- ...os documentos do carro! - completa o pensamento com palavras. Grita um palavrão para a mulher e corre de volta para o prédio dela, onde na esquina está estacionado o seu carro.
- Agentesevêporaíagentesevêporaiagentesevêporaíagentesevêporaiagentesevêporaíagentesevêporai.
Com esse mantra ele volta para casa e no caminho ainda se perde duas vezes.
- Agentesevêporaíagentesevêporai, parece até refrão de música brega, agentesevêporaíagentesevêporai...
Ao chegar, pingando, deixando poças d’agua pelo chão, sujando o tapete branco, corre para a secretária eletrônica, que pisca, na esperança de uma mensagem dela.
Plantado de frente à máquina constata tristemente que era a mãe reclamando das varizes, pela terceira vez essa semana.
A poça d’água aumentou ainda mais com suas lágrimas...
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