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O compositor Mário Ficarelli
Morreu ontem (02) aos 79 anos, o compositor Mário Ficarelli. Seu velório iniciou ás 10h e irá até às 16h deste sábado na Praça das Artes, anexo do Teatro Municipal de São Paulo. Ficarelli era membro da Academia Brasileira de Música e foi professor do Departamento de Música da Universidade de São Paulo, que dirigiu de 1997 a 2005.
Morreu ontem (02) aos 79 anos, o compositor Mário Ficarelli. Seu velório iniciou ás 10h e irá até às 16h deste sábado na Praça das Artes, anexo do Teatro Municipal de São Paulo. Ficarelli era membro da Academia Brasileira de Música e foi professor do Departamento de Música da Universidade de São Paulo, que dirigiu de 1997 a 2005.
Sua obra mais conhecida talvez seja a Sinfonia nº 2 – Mhatuhabh, encomendada e estreada pela Orquestra da Tonhalle de Zurique no início dos anos 90, sob regência do maestro Roberto Duarte. Ele deixa, no entanto, também grande produção camerística, da qual são destaques seus quintetos – escritos para formações como oboé e quarteto de cordas ou trompa e quarteto – ou o sexteto Tempestade Óssea. É autor também da cantata A Coisa, para coro e percussão, escrito a partir de textos de Millôr Fernandes.
Ficarelli começou cedo na música, estudando piano com Maria de Freitas Moraes e Alice Philips e composição com Olivier Toni. “Ficarelli escolhe as cores escuras como quem toma da noite para molhar-se em mais castas e distantes luzes. Em tudo sua música faz sentido e vai além de um compromisso fechado em si mesmo: celebra os motivos humanos e agarra-se com coragem às insolências da sorte”, escreveu sobre ele, no final dos anos 1990, o compositor Aylton Escobar.
No panorama da criação musical brasileira da segunda metade do século 20, não se filiou diretamente a escolas de composição. “Incomodava-me muito, por volta de 68, quando comecei a compor, a pressão que havia, de um lado o nacionalismo, e de outro, as tais vanguardas. Pensava que a única coisa que existia era a liberdade plena para alguém escrever o que quisesse”, contou, em entrevista de 2005, quando recebeu diversas homenagens pelos seus 70 anos.
“Não entendia o policiamento. Felizmente isso acabou. Hoje o compositor tem diante de si uma imensa quantidade de recursos. Invoco a responsabilidade: o que fazer diante de toda essa liberdade? Acredito que o compositor inteligente saberá escolher quais as ferramentas que melhor irão servir às suas propostas. Será como para um escritor escolher se vai escrever um romance, um poema, uma crônica, ou apenas um pensamento. Que vocabulário vai usar, simples ou sofisticado? Será detalhista ou sintético? É preciso antes de mais nada que ele saiba, no seu mais íntimo, se realmente tem alguma coisa para dizer.”
Ficarelli dizia se sentir à vontade “em um tempo pós-moderno”. “Escrevo a música que sinto dentro de mim, aliás, como sempre procedi. Não posso deixar de lembrar do Grupo dos Cinco na Rússia, quando Korsakov, Balakirev e outros insistiam para que Tchaikovsky escrevesse música autenticamente russa, como eles pensavam. Mais tarde, a música do Sr.Piotr passou a ser tida como a mais russa entre todas. Pois é, ele não forçava a barra, como se diz.”
Fonte: João Luiz Sampaio - O Estado de S. Paulo
Postagem: Magno Oliveira
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