Parece que é mesmo o ano da mudança para os diretores em competição no 65º Festival de Cannes, que acontece até dia 27 na Riviera Francesa.
Depois de Jacques Audiard, que trocou o tom scorsesiano por uma história de amor em “De Rouille et D’os”, agora é Matteo Garrone, de “Gomorra”, sobre os pequenos funcionários da Camorra em Nápoles, quem volta totalmente diferente com a comédia “Reality”, que discute as fronteiras da realidade e da ficção.
A expectativa era tão enorme que o Grand Théâtre Lumière ficou completamente lotado na manhã desta sexta-feira (18), obrigando muitos jornalistas a assistir ao longa na sala Soixantième. Nem todos ficaram felizes, e algumas pessoas saíram antes do final.
Nada melhor do que usar o mundo dos reality shows para falar do embaralhamento entre realidade e ficção. Dono de uma peixaria em Nápoles, Luciano (Aniello Arena, muito bom) vive num prédio caindo aos pedaços com a mulher Maria (Loredana Simioli) e três filhos. O dinheiro, ali, é artigo em falta. Ele adora aparecer, chegando a se vestir de drag queen em casamentos – um deles conta com a presença estrelada de um ex-Big Brother, Enzo (Raffaele Ferrante).
Quando o reality show começa a fazer a seleção para sua próxima edição, Luciano fica cada vez mais obcecado com a ideia de que vai ser escolhido, mergulhando na loucura. Garrone cita “Pinóquio” como uma das referências. Há, sim, um jeito de fábula, mas o cineasta italiano não acerta muito o tom.
O filme nem tem graça nem chega a fazer uma crítica à sociedade do espetáculo, individualizando o fascínio com esse tipo de programa. Seus coadjuvantes fellinianos muitas vezes são olhados de cima para baixo. Na maior parte do tempo, “Reality” acaba sendo apenas bobo, apesar de conter ali, em algum lugar, um retrato da Europa em tempos de crise – e um diretor de talento por trás.
Na entrevista coletiva que se seguiu à exibição, Matteo Garrone manteve o sorriso no rosto, mas passou por quase todas as perguntas sem querer se aprofundar. Ele explicou a escolha do projeto, depois de “Gomorra”. “Procurei um tema forte. Aí vi que estava indo em direção a um muro, então resolvi fazer um conto, uma história muito simples.”
Ele negou ter tentado denunciar os reality shows. “Na tradição do glorioso cinema italiano, queríamos contar com calor, com humor. A denúncia de fundo social não era nossa intenção.” Indagado se o filme não desejava falar sobre a situação da Itália e seu fascínio com esse tipo de programa, afirmou: “Não deveríamos generalizar, é a história de um personagem, não deveríamos tirar outras conclusões. Não acho que seja a história de um país inteiro”.
Vários dos cenários foram construídos especialmente, como um parque aquático e um shopping center. “Buscamos imagens contraditórias. Há uma mistura de realismo e ficção, mas seria fácil esquecer a realidade e virar algo totalmente fantástico. Não queria isso”.
O protagonista, Aniello Arena, estava ausente da entrevista. Como está preso há 18 anos, precisa de permissão especial para sair. “Ele começou a atuar com a companhia La Fortezza, é um dos maiores atores e tem conseguido autorização para sair da prisão e atuar”, disse Garrone. “Nas filmagens, durante o dia, ele trabalhava no set e à noite voltava para a prisão.”
Fonte: Portal IG
Postagem: Magno Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por interagir conosco!