MINI ENTREVISTA COM IANÊ MELLO
Quando e como você começou a escrever?
Desde nova, em minha adolescência, fui apreciadora de música, e, através da audição da música popular brasileira, minha atenção voltou-se para a leitura poética de suas letras. Apreciava Caetano, Milton, Chico Buarque, Belchior, Flávio Venturini, Djavan, dentre outros, que me chamavam a atenção por escreverem letras com intensa carga poética. Comecei, então, a rabiscar meus poemas descompromissadamente, num caderno de anotações. Todos tinham uma grande carga emocional e retratavam os medos, as dúvidas e angústia de uma adolescente, como não poderia deixar de ser.
Ao iniciar minhas leituras, meu universo se ampliou ainda mais. Com a leitura de diversos escritores a que tinha acesso, através da biblioteca de minha mãe e posteriormente de livros que adquiria através do " Círculo do Livro", fui recebendo influências de seus escritos em minha criação poética, o que foi alargando meus horizontes. Nessa época entrei em contato com alguns escritores de romances como, por exemplo, Herman Hesse, que muito me impressionou com seu livro "O Lobo da Estepe". Outros escritores foram se apresentando com o passar do tempo, fazendo parte do meu universo literário. Encontrei e ainda encontro inspiração nos escritores e poetas consagrados, tais como Drummond, Pablo Neruda, Cecília Meireles, Adélia Prado, Mario Quintana, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Ferreira Gular, Hilda Hilst, Leminsky, Clarice Lispector, Anais Nin, Cora Coralina, Carlos Nejar, Olga Savary, Charles Bukowiski, Augusto dos Anjos, Anna Akmatova, dentre outros. Como estou sempre em busca de novidades, tenho descoberto nos meios de divulgação novos talentos que muito enriquecem meu universo poético-literário.
Como já havia dito, foi através da forma poética que encontrei expressão em minha adolescência. Os versos fluíam tão naturalmente e com tamanha facilidade que não pensava nas palavras, elas vinham e se apossavam de mim (risos). Me sentia um mero instrumento daquele "algo" que de mim se apoderava, a inspiração. Com o passar do tempo fui me identificando com os outros gêneros, como o conto e a crônica, encontrando hoje uma fluência na escrita dos mesmos, mas a poesia continua sendo a minha paixão e a minha forma de catarse.
Com o advento da internet e sua larga propagação, minha produção literária se expandiu significativamente, tendo criado blogs pessoais nos quais exponho meus textos e através da participação em espaços literários com os quais tenho contribuído efetivamente. Minha escrita, então, deixou de ser um ato solitário, guardada nas páginas de um caderno de notas, passando a ser compartilhada com inúmeras pessoas, dentre elas, outros escritores da nova geração.
Recebeu apoio quando decidiu se dedicar a cultura?
Sempre recebi o exemplo e incentivo de meus pais com relação a cultura, uma vez que ambos eram professores e leitores assíduos. Recebi grande incentivo paterno de me formar como professora, prestar concurso público para o cargo e posteriormente formar-me na faculdade de Pedagogia, concluindo o curso de Pós-graduação como Pedagoga e Orientadora Educacional. Assim, me dediquei vários anos a educação pública, lecionando como professora e exercendo a atividade de orientadora educacional em escolas do município.
Além disso, ainda na minha adolescência, quando descobriu a minha aptidão para a escrita de poemas, meu pai sempre me deu grande incentivo. Queria muito, inclusive, me ajudar a publicar um livro, o que, infelizmente não foi possível.
No presente, conto com o incentivo de meu esposo, que também é escritor, Beto Palaio.
Conte para nós algo que lhe alegrou e algo que lhe aborreceu em relação a cultura?
Minha experiência com a cultura provêm não só do ato de escrever, mas também, como já mencionei anteriormente, pelo fato de ter sido professora e orientadora em escolas públicas. Naquela época sentia prazer em lecionar e acreditava que poderia contribuir para mudar o "status quo". Tinha como objetivo formar alunos pensantes, com capacidade de questionamento e ação. Meu grande ídolo era o educador Paulo Freire e seu livro " Pedagogia do oprimido" era meu guia.Nele falava na educação transformadora contrapondo-se à educação bancária, onde o aluno era um mero receptáculo de informações. Minha decepção com a cultura começa daí, por ser o professor mal remunerado, não tendo seu verdadeiro valor reconhecido, fato que nos dá uma amostra do quanto a educação e cultura são desvalorizadas em nosso país. Tal fato, inclusive, me fez ter que desistir da minha profissão, procurando por outra em que houvesse melhor remuneração.
Com a escrita se dá o mesmo fato. O ato de escrever é algo que me complementa e me faz feliz. Não consigo me ver sem a atividade da escrita e a ela tenho me dedicado com afinco, sendo o desenvolvimento que tenho alcançado ao longo dos anos para mim muito gratificante, fazendo-o por gosto, por prazer, sem ter nem esperar disso retorno financeiro. Reconheço e isso muito me entristece, que se dependesse dela para sobreviver seria algo muito difícil, como o foi um dia como educadora. A cultura em nosso país, bem como tudo que dela provém, não é suficientemente valorizada ao ponto de obter-se uma independência financeira. Pela formação que tenho, tal fato me deixa indignada, pois vejo a cultura como o bem mais precioso que um ser humano pode adquirir. É desanimador ver professores, escritores, artistas e todo o contingente de individuos ligados a cultura, passando inúmeras dificuldades. Isso é de cortar o coração.
Você se considera escritora?
"Escritor é o artista que se expressa através da arte da escrita, ou, tradicionalmente falando, da Literatura. É autor de livros publicados, embora existam escritores sem livros publicados (chamados, por alguns, de amadores)."
Esta definição se encontra na Wikipédia.
Bem, acho particularmente delicado atribuir-se esse estatuto de escritor. Chamar-se a si mesmo de escritor pode passar a idéia de certa falta de modéstia (riso). Por isso quis acrescentar à minha resposta essa definição. Baseando-me nesta, diria que sim, poderia me dizer escritora, no sentido lato, pois me expresso através da escrita. Mas como me é desconfortável ainda essa auto-denominação, prefiro dizer que sou aprendiz de escritora, pois estou em processo, sempre aprendendo e me desenvolvem.
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