Lara P. curadora do Festival Assim Vivemos |
Lara Pozzobon
É doutora em literatura Comparada e produtora de cinema. Produziu os premiados curtas de ficção em 35 mm Cão Guia (1999), Numa noite Qualquer (2001), Nada a Declarar (2003) e Mora na Filosofia (2004) e o longa metragem Incuráveis, lançado em 2006. Produziu em 2007 as mostras analógico Digital e Clandestina Liberdade. Em 2008, as mostras Nouvelle Vague, Ontem e Hoje e Oriente Desconhecido, além da peça de teatro Quartos de Tennessee e do Portal Acessível Blind Tube. Em 2009, produz A História da Filosofia em 40 filmes e faz a curadoria e a produção do Programa Assim Vivemos, da tevê Brasil. Após a itinerância do festival Assim Vivemos por Porto Alegre e Belo Horizonte, dá início à segunda edição da mostra A História da Filosofia em mais de 40 Filmes e estreou dia 13 de agosto a peça Leonel Pé de Vento, no Oi Futuro RJ.
Lara Pozzobon concedeu entrevista a Magno Oliveira que você confere a seguir:
Magno Oliveira: O que é mais difícil fazer, programa de tevê, cinema ou teatro e por quê?
Magno Oliveira: Qual trabalho você mais tem prazer de ter produzido e por quê?
Magno Oliveira: O Festival Assim Vivemos deste ano em relação aos anteriores, o que trouxe de diferente?
Lara Pozzobon: Assim como em 2007 tivemos a novidade de convidar uma pessoa cega, Marco Antonio de Queiroz, para participar do Júri Oficial (formado por três pessoas), este ano convidamos uma pessoa com síndrome de Down, atualmente classificada como deficiência intelectual. Nesse caso, o jurado foi o Breno Viola, campeão mundial de Judô For All e Faixa Preta (conquistada entre pessoas sem deficiência). A ideia foi mostrar que isso que se considera deficiência intelectual é algo muito relativo. A síndrome de Down não define o limite do desenvolvimento de seu portador. Há uma variação enorme entre eles. Os elementos definidores são o estímulo e a confiança depositados na pessoa, em todas as fases da sua vida. Esse assunto, que sempre me interessou por fazer parte do conjunto de temas do Festival Assim Vivemos, passou a ser um assunto de interesse pessoal para mim. Há um ano e meio, tivemos um bebê com síndrome de Down. Ele é maravilhoso, carismático e inteligente. Chama-se Dante. Estou certa de que ele não terá dificuldades maiores em se entrosar socialmente e em aprender os conteúdos escolares regularmente. Nós o tratamos da mesma forma que sempre tratamos nossa filha de 8 anos, Giovanna. Espero que o termo "deficiência intelectual" seja substituída nos próximos anos por algum outro mais técnico, pois não me imagino explicando ao meu filho que essa é a definição da sua condição. Síndrome de Down também reúne duas palavras bem pesadas. Se no Brasil usássemos trissomia, como os franceses, talvez não parecesse tão assustador à primeira vista.Aliás, por termos assistido a mais de seiscentos filmes sobre deficiência nesses últimos 8 anos, fazendo a curadoria do festival, eu e meu marido, Gustavo Acioli, tivemos uma reação muito serena quando soubemos dessa característica do Dante, quando ele nasceu. Isso só reforça a importância e a eficácia do festival como disseminador de idéias livres e desmistificador de medos e preconceitos.
Magno Oliveira: Qual filme e qual diretor você mais gosta?
Magno Oliveira: O que você acha sobre o cinema nacional?Lara Pozzobon: Grande parte muito pobre de espírito ou acanhado. Outra parte horrivelmente pretensioso e vazio. Alguns exemplares dignos e corajosos, com gosto pelo risco e prazer em dizer alguma coisa que valha a pena ser ouvida. Em todos os universos citados, há os corretos, os criativos, os toscos e os equivocados. Prefiro não citar nomes.
Magno Oliveira: Para os próximos anos o Brasil irá sediar como Copa do Mundo, Olimpíadas, Rock in Rio mesmo que não estejam ligados diretamente ao cinema podem influenciar de forma indireta ou direta a produção aqui no Brasil?
Lara Pozzobon: Sim, tudo o que acontece sugere tema para filme. Esses três acontecimentos certamente renderão muitos projetos. Mesmo acontecimentos não tão óbvios sugerem temas a inúmeras pessoas ao mesmo tempo. Sinto claramente que as idéias estão no ar, parece que há uma predisposição para tratar dos mesmos temas em diversos lugares simultaneamente, mesmo que isso pareça às vezes inconcebível ou inexplicável.
Magno Oliveira: Já pensou em escrever um livro?
Lara Pozzobon: Pensar em escrever é uma etapa muito distante de realmente escrever. Quem não pensou? Escrevi uma tese de doutorado sobre cinema e literatura e algumas dezenas de poemas, há muitos anos atrás. Mas não publiquei nada, por diversos motivos.
Magno Oliveira: No seu gosto pessoal qual filme exibido no Festival Assim Vivemos você destaca?
Lara Pozzobon: Vou citar quatro deste ano.
Magno Oliveira: Quais ações podem fazer com que as pessoas andem numa só mão na luta pelos direitos?
Magno Oliveira: Quais ações podem chamar a atenção das pessoas com deficiência ou não para a produção cultural?
Lara Pozzobon: Tanto umas como as outras podem apreciar ou não a fruição estética ou o entretenimento. Mas o definidor crucial para as pessoas com deficiência é a presença das acessibilidades. Só com elas será dado o direto às pessoas com deficiência de compartilhar da produção cultural.
Magno Oliveira: Para os jovens que estão começando a fazer cinema agora qual a dica que você deixa a eles?
Lara Pozzobon: Tenha algo em mente e reflita, dialogue, desenvolva e deixe as idéias se condensarem em um impulso irresistível, para então fazer um filme. Considere se o seu filme fará diferença na vida de quem o assistir. E se fará diferença na sua existência. Pode parecer pesado, mas digo isso porque na nossa era, o audiovisual é a coisa mais banal que há. Mas bons filmes são raros.
Magno Oliveira: Há algo que queira dizer e eu não perguntei, pode mencionar.
Lara Pozzobon: Nada mais. Obrigada pela oportunidade.
Agradecimentos
Andréia Lima Baobá Comunicação
Lara Pozzobon curadora do Festival Assim Vivemos
Entrevista
Magno Oliveira Folhetim Cultural
Magno, parabéns pela entrevista.
ResponderExcluirExcelente entrevista!
ResponderExcluirConhecer melhor Lara Pozzobon , me deixou emocionada. Vi "O CÃO GUIA", um espetáculo de curta. Gostaria muito de ver DOWN TOWN. e os filmes sobre filosofia.
Parabéns, Magno!
Prazer enorme em conhecê-la, Lara!
Beijos
Mirze