Apesar da intensa mobilização via internet
, não há sinal de que Sean Penn estará no Brasil nesta sexta-feira (1º) para assistir à estreia de "Colegas"
, filme protagonizado por três atores com síndrome de Down. Um deles,
Ariel Goldenberg, 32 anos, estrelou uma campanha em vídeo para realizar o
sonho de conhecer o astro. Mas a ausência não vai abalar uma convicção
maior: a de que o longa terá o poder de transformar os espectadores.
“Vai mudar tudo”, afirmou, em entrevista ao iG
. “Este filme vai quebrar o preconceito, vai ensinar as pessoas a ter outro olhar. Vai acontecer uma inclusão pela arte.”
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Dirigido por Marcelo Galvão, “Colegas” conta a história
de três jovens criados em um instituto para portadores de síndrome de
Down que decidem fugir após assistirem a “Thelma e Louise”. Fãs de
cinema, eles embarcam em um road movie da vida real para realizar seus
sonhos, contando com um carro roubado e a mesma determinação dos atores
que os interpretam.
Como o personagem Stallone, que sonha em ver o mar, Ariel
está disposto a fazer o que for preciso para se tornar cineasta. Com
alguns trabalhos anteriores no currículo (a novela “Jamais te Esquerei”
do SBT e o seriado “Carga Pesada” da Globo), depois de “Colegas” ele
abandonou o emprego em uma empresa de tintas para se dedicar
integralmente à carreira. Quer continuar fazendo cinema, televisão e
teatro e pretende começar a trajetória como diretor com um documentário
sobre inclusão. “Quero que o preconceito acabe”, afirmou. “Minha vida
sempre foi normal.
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Breno Viola, 30 anos, interpreta Márcio, cujo sonho é
voar. Integrante da equipe do site Movimento Down, flamenguista e faixa
preta de judô, ele considerou o fato de ter sido escolhido entre 300
candidatos para estrelar o filme como mais um obstáculo vencido. “Não
importa as barreiras, eu vou derrubando tudo. Não há limite para viver a
vida”, afirmou. Entre as semelhanças com seu personagem, ele destaca
uma: “Também gosto muito de mulher. Mas eu prefiro as magras, o Márcio
só pensa nas gordas.
A menina do trio é Rita Pokk, 32 anos, funcionária de uma
rede de farmácias que no cinema interpreta Aninha. “A personagem é a
mesma coisa que eu: tudo o que ela passa no filme, eu passo na vida
real”, contou. Entre os pontos em comum está o sonho de casar –
realizado por Rita há quase dez anos, quando disse sim à Ariel.
Os dois se conheceram quando estudavam teatro na
Associação para o Desenvolvimento Integral do Down (ADID) e atuaram
juntos pela primeira vez numa versão teatral de “Romeu e Julieta”. Em
2005, já casados, participaram do documentário “Do Luto à Luta”, de
Evaldo Mocarzel. Hoje, vivem juntos com a mãe dele em São Paulo.
A troca de olhares e elogios entre os dois é constante.
“Meu romance com o Ariel é na base do carinho, da conversa, de brincar,
namorar”, conta. “Ele me leva para jantar a dois, me dá buquê de flores,
me chama para sair, para tomar cafezinho preto com ele...Ariel é muito
romântico e apaixonado por mim.”
Juntos também no filme, eles garantem ter tirado de letra
as cenas de romance. “Beijar é fácil, já sei fazer isso”, disse Ariel.
“Não é difícil, é simplesmente bom”, acrescentou Rita.
Além de beijos, eles também trocam carícias durante a
noite de núpcias, uma cena que para o diretor significava a chance de
quebrar paradigmas, rejeitando comentários de que o conteúdo poderia ser
“pesado” por se tratar de dois portadores de síndrome de Down. “Quis
mostrar que eles também se beijam e têm vida sexual ativa. Não há
vergonha nenhuma nisso, é normal e real”, explicou Galvão, que optou por
uma tomada mais insinuante do que explícita. “Quis filmar o sexo de
forma bonita, com delicadeza, como fazem os grandes filmes.”
'Energia boa'
A inspiração para “Colegas” veio da vida pessoal de
Galvão, que foi criado com um tio portador da síndrome. Desde o começo,
ele teve a certeza de que a melhor forma de contar a história era optar
por um filme leve e cômico. “Nunca vi meu tio como deficiente, sempre
como amigo. Dava risada com ele, tinha orgulho. Então quis fazer um
filme que tivesse essa áurea, essa energia boa, esse lado lúdico de
acreditar que tudo é possível”, contou.
Outra decisão crucial foi a de não abordar a doença ou as
formas de preconceito de forma direta. “Não quis levantar nenhuma
bandeira. É mais eficaz mostrar que os três conseguem fazer o espectador
rir, chorar e se emocionar pela atuação, não porque são deficientes”,
opinou.
A naturalidade da abordagem foi aprovada pelo elenco.
“Não queremos ser tratados como coitadinhos”, afirmou Breno.
“Antigamente éramos vistos como mongoloides. A gente não quer isso. A
gente quer ser tratado como todo mundo, como ser humano normal.”
Galvão disse ter escolhido os protagonistas por serem
pessoas eloquentes, inteligentes, com boas tiradas e capacidade de
improviso. “Mas o principal foi o carisma", explicou.
Foram sete anos desde a primeira versão do roteiro até a
finalização do filme, o primeiro dos cinco da carreira do diretor que
contou com incentivo público e privado. Entre os R$ 6 milhões do
orçamento, R$ 500 mil foram captados por Ariel na empresa em que
trabalhava. “Sou o marketing pessoal do Marcelo e do 'Colegas'”,
explicou o ator.
Durante quatro anos, Galvão manteve ensaios semanais,
sempre às quintas-feiras, com Ariel e Rita. Breno começou a ensaiar 30
dias antes de começarem os três meses de filmagem, que correram sem
grandes dificuldades. Breno treinava o texto sozinho em seu quarto,
Ariel tem facilidade para decorar suas falas (“é só ler, entender e
improvisar”) e Rita classificou a experiência no set como “divertida,
gostosa e pra cima”.
As referências cinematográficas que permeiam o roteiro –
de “Cães de Aluguel” a “Blade Runner” – foram a saída pensada pelo
diretor para o caso de o elenco não atuar bem. “Como os personagens
trabalham na videoteca do instituto e decoram falas de filme, criei
situações em que eles usassem essas frases como se estivessem
representando”, contou. “Então, se saísse ‘overacting’, teria a ver com a
história. Mas descobri que eles eram muito bons e isso virou só a
cereja do bolo.”
Prêmios e sonhos
Galvão conta com o boca a boca - ampliado
exponencialmente pela campanha “Vem Sean Penn” – para que o filme seja
visto nas cerca de 100 salas em que será exibido ao redor do País. Ele
foi o principal defensor do atraso na estreia, inicialmente prevista
para novembro, para que houvesse tempo de apresentar a produção ao
público e evitar concorrer com o último longa da saga “Crepúsculo”
.
Por considerar a competição com blockbusters desigual,
ele é defensor de uma cota para filmes brasileiros que funcione em
caráter temporário, até que a demanda dos próprios espectadores a torne
desnecessária. “Acho que temos de começar a fazer mais filmes para o
público, o que não significa filmes ruins. Criou-se essa separação,
quando na Argentina se faz muito filme bom que é sucesso de bilheteria”,
opinou.
Assista ao trailer de "Colegas":
Além do boca a boca, o filme também chega ao circuito com o título de vencedor do Festival de Gramado
do ano passado, um prêmio que os atores guardam com carinho. Os três
parecem completamente à vontade em meio à rotina de entrevistas e
eventos. “Amamos esse trabalho e queremos que o público aplauda de pé”,
disse Rita. “É isso que a gente espera: elogios, fotos, autógrafos! Ai,
que maravilha!”, comemora a atriz, que sonha em trabalhar em Hollywood e
fazer par romântico com seus astros favoritos: Brendan Fraser, Arnold
Schwarzenegger e Leonardo DiCaprio.
No momento, porém, o foco é o sonho de Ariel: conhecer
Sean Penn. Rita garante que, se ele não vier, o casal retomará o plano
de ir a Hollywood, abandonado pela falta de visto. A oportunidade
perfeita pode ser a cerimônia do Oscar – um prêmio que os atores estão
certos de que o longa ganhará (Ariel já começou a pensar no discurso,
Bruno disse querer ganhar como melhor ator).
O diretor também afirma que vai batalhar pela indicação
brasileira. “Eu viajo junto com eles”, brincou. “Hoje ouvi um barulho de
helicóptero e pensei: será que é o Sean Penn?”
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Foto retirada da internet
Fonte IG Postagem Magno Oliveira
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