Impossível
falar da história do teatro em Suzano nos últimos 18 anos sem perceber a
interferência do grupo Contadores de Mentira, residente no município desde
1995.
O grupo Contadores de Mentira atua em Suzano, na grande São Paulo desde
1995 e é pioneiro de um movimento, hoje fortalecido e na base histórica teatral
do Alto Tietê. Foi o primeiro grupo a adotar Suzano como "residência"
e o primeiro grupo a propor novos espaços forçando a comunidade de Suzano a
"exercitar o olhar" para um teatro voltado aos rituais, à pesquisa de
linguagens e à necessidade de organização e com o olhar para a comunidade à sua
volta.
Os
Contadores descobriram cedo que é necessário se organizar em coletivos, lutar
por políticas públicas, e que dialogar com a comunidade é tão importante quanto
a obra teatral. Um projeto de grupo é mais importante que um espetáculo
isolado. É um grupo que atua no teatro, focado nos rituais populares, a
antropologia, mas também atuam como "brincantes populares", como
associação, como comunicação de Mídia Livre. "Dizemos com orgulho e com
calos nas mãos, que participamos de todos os movimentos voltados ao teatro nos
últimos anos. Os grupos que surgiram nos últimos anos, às vezes não tem idéia
dos nossos sacrifícios no passado.", relata Cleiton Pereira, diretor do
grupo desde o início da sua fundação.
O grupo foi reconhecido, pelo Ministério da
Cultura em 2009 e também em 2010,
através do Prêmio Pontos de Mídia Livre, do Programa Cultura Viva do Ministério
da Cultura. Também recebeu o Prêmio Ensaiando Um País Melhor. Em 2012 o grupo foi convidado pela SESC TV
para a gravação do programa Teatro e Circunstância. Programa de uma hora
de duração que documenta e mapeia os principais grupos de teatro do Brasil. Ainda
em 2012 foi o representante brasileiro no Circuito de Teatro Português com
grupos de Angola, Moçambique, Portugal, entre outros.
Para quem não conhece o grupo ou
que acompanha o teatro de Suzano apenas pela história recente, talvez não saiba
que o grupo impulsionou a ocupação de espaços de uma forma original
radicalizando as linguagens ao longo dos anos. O grupo ocupou a Biblioteca
Pública Municipal durante vários anos, realizando espetáculos à luz de velas,
com refletores construídos artesanalmente e cujas apresentações foram
históricas para o teatro da cidade. Desde sua fundação há mais de 17 anos, os
Contadores de Mentira produziram espetáculos emblemáticos: Foram mais de 20
espetáculos, entre eles: "Coma-me" (2000 a 2004), "ALICE C.
" (1999 a 2000), "O Incrível Homem Pelo Avesso" (2011 a 2013),
"Curra-Temperos Sobre Medéia" (2008 a 2013) que rendeu ao grupo mais
de 200 apresentações, convites, parcerias, prêmios e a indicação ao Prêmio
Cooperativa Paulista de Teatro em 2012. Outro projeto importante dos Contadores
de Mentira, que revela a sua inquietude e conduta em relação à cidade de Suzano
é o Ponto de Mídia Livre "TV CONTADORES DE MENTIRA" premiada pelo
Ministério da Cultura em dois anos consecutivos. O projeto da TV criou
conteúdos audiovisuais cujo foco principal é contar a história do cidadão comum
que também ajudou e ajuda a construir a história da cidade.
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Depois de tantos anos produzindo
juntos, com público cativo e por conseqüência dos anos de luta, no próximo dia
23 de fevereiro o grupo inaugura o Teatro Contadores de Mentira, situado na Rua
Major Pinheiro Froes, 530 - Parque Maria Helena - Suzano. "Optamos pelo
outro lado da linha, porque sempre estivemos localizados às margens, nos
movimentos das periferias e nos sentimos à vontade em trabalhar em áreas sem
acesso à bens culturais.", diz Drico de Oliveira, ator fiel ao grupo desde
sua fundação.
O Teatro
Contadores de Mentira proporá, além de apresentações, oficinas culturais, realização de redes colaborativas com artistas da cidade e de outros municípios. O
espaço representa para o grupo liberdade, há tempos falávamos sobre uma
"casa" onde pudéssemos mergulhar em nossas necessidades, em nossas
pesquisas, em nossos trabalhos, e ao mesmo tempo compartilhar aprendizado e
pensamento, diz Daniele Santana, atriz do grupo.
Os Contadores de Mentira possui
tradição na cidade. Uma tradição construída com raízes sólidas na própria
identidade histórica. É um grupo que acredita nas potências criativas da
região, que atua em rede, que possui vínculos com outros grupos e movimentos
sociais e cuja produção já é reconhecida pelos principais grupos de teatro do
país e outros da América Latina.
No dia 23 às 19h de forma
gratuita, o grupo fará uma apresentação simbólica para contar seus 17 anos de
história. E no dia 24 às 19h o Teatro receberá a Cia. do Escândalo com o
espetáculo "O Sequestro do Secretário de Cultura", a peça é parte da
inauguração do espaço e também será gratuita. Autoridades, artistas e público
poderão celebrar a inauguração da nova "casa" de cultura da cidade.
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Será muito especial receber a Cia. do
Escândalo em nossa casa, porque há anos cultivamos uma parceria muito forte , e
nosso grupo também foi o primeiro a se apresentar no Galpão Arthur Netto,
espaço da cia, ou seja, o grupo certo pra abrir este caminho junto com a gente,
comenta Daniele.
Serviço:
As inscrições
para as oficinas de teatro, dança e circo, estarão abertas a partir do dia 25
de fevereiro, das 10h às 17h, de segunda a sexta-feira, no próprio local.
Outras
informações pelo telefone 9 9852-9968.
UM
TEATRO DE CELEBRAÇÃO
Chamamos
nosso teatro de “Celebração”. Em algum momento na construção de nosso grupo
percebemos nas manifestações populares, nas rezadeiras, nas celebrações
religiosas, nas danças orientais, um fenômeno que nos tocava e nos
perguntávamos por que aquilo nos envolvia, era o resultado de uma série de
perguntas que ainda fazemos para justificar algumas de nossas escolhas. Em
alguns anos percebemos uma dramaturgia em nosso corpo, às vezes estranho à formação
tradicional de atores, mas com capacidade criativa inerente. Percebemos que era
possível celebrar o tema e não apenas interpretá-lo na dramaturgia da razão.
Optamos ao longo do tempo em celebrar a relação entre platéia, artistas, obra,
instante. Percebemos que é possível contar uma história pela lembrança, pela
imagem, pelo cheiro, pela dança, pela comida, pela cachaça, pela sombra, pela
escuridão, pela luz, pelo silêncio. Percebemos também que o público não precisa
ser apenas observador, que é generoso ao nos dedicar algumas poucas horas para
o efêmero, para o encontro. Encontramos nas tradições também a idéia de que
nosso ofício é próxima a do artesão, somos artesões teatrais.
Assim, como o
alfaiate, como o chapeleiro que trabalham incansavelmente para produzir um belo
chapéu, uma calça. Celebração, Antropologia, Observação, Simbolismos, efêmeros,
Brincantes, Potências, Corpos são eixos de nosso teatro.
A
“Celebração” nos move, pois não temos interesse, embora não recusemos
totalmente, em criar uma obra didática sobre os temas. Nossa intenção é
celebrar a história, as pessoas, as guerras, a memória, o sentimento de recusa,
e, sobretudo o próprio ato teatral.
Temos
por princípio a recusa e o que nos move ainda são recortes, imagens, pequenas
fraturas, e a consciência de nosso “caminho”. Sabemos que arriscaremos para
além do sucesso ou fracasso, e que seremos transformados de alguma forma.
Sabemos que será um mergulho intenso, pois o que nos move são as mesmas
questões que poderiam nos condenar à impotência criativa. O que nos move é
desenvolver da técnica do ator à nossa organização interna, nossa ética ao modo
de resolver os problemas econômicos, e sermos íntegros com a obra que ao longo
dos ensaios nos indica que caminho seguir. Tentamos sempre encarar onde estão
as nossas potências. Alguém que cozinha bem certamente poderá cozinhar em cena
e compartilhar seu conhecimento, alguém que toca um tambor pode ser potência e
irradiar a dança para outros. Público, Artistas, amigos, podem se sentir à
vontade e contribuir para “desenterrar” os temas que estamos propondo ao longo
da vida. Este é o caminho da celebração que escolhemos e temos como base para a
pesquisa.
É
por este caminho que nos identificamos com muitos grupos ao redor do mundo. Há
tempos meu grupo: “Contadores de Mentira” criamos redes colaborativas
com grupos parceiros. Essas redes nos ajudaram a encontrar criadores que vivem
experiências de resistência e quanto mais percorremos percebemos que há muitas
histórias que se confundem no Brasil e na América Latina. Histórias de grupos
que atuam e recusam os “guetos”, que a partir da precariedade desenvolvem
estudos consistentes, que constroem um processo de formação contínua para toda
a vida. Pensamos quais são os mestres que nos indicam onde encontrar o passado.
Quais origens podem nos indicar um caminho mais doloroso e ao mesmo tempo transformador.
Em junho primeira edição da revista digital Folhetim Cultural solicite e receba via e-mail: folhetimcultural@hotmail.com
Foto retirada da internet
Fonte: Contadores de Mentira
Postagem: Magno Oliveira
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