sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Magno Oliveira entrevista Ianê Mello nova colunista do Folhetim Cultural


A partir desta segunda ás 20 horas entra no ar a coluna sentires poético por Ianê Mello. Acompanhe uma pequena entrevista feita por Magno Oliveira.

Magno Oliveira: Quando e como você começou a escrever?

Ianê Mello: Desde nova, em minha adolescência, fui apreciadora de música, e, através da audição da música popular brasileira, minha atenção voltou-se para a leitura poética de suas letras. Apreciava Caetano, Milton, Chico Buarque, Belchior, Flávio Venturini, Djavan, dentre outros, que me chamavam a atenção por escreverem letras com intensa carga poética.  Comecei, então,  a rabiscar meus poemas descompromissadamente, num caderno de anotações. Todos tinham uma grande carga emocional e retratavam os medos, as dúvidas e angústia de uma adolescente, como não poderia deixar de ser.

Ao iniciar minhas leituras, meu universo se ampliou ainda mais. Com a leitura de diversos escritores a que tinha acesso, através da biblioteca de minha mãe e posteriormente de livros que adquiria através do " Círculo do Livro", fui recebendo influências de seus escritos em minha criação poética, o que foi alargando meus horizontes. Nessa época entrei em contato com alguns escritores de romances como, por exemplo, Herman Hesse, que muito me impressionou com seu livro "O Lobo da Estepe". Outros escritores foram se apresentando com o passar do tempo, fazendo parte do meu universo literário.  Encontrei e ainda encontro inspiração nos escritores e poetas consagrados, tais como Drummond, Pablo Neruda, Cecília Meireles, Adélia Prado, Mario Quintana, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Ferreira Gular, Hilda Hilst, Leminsky, Clarice Lispector, Anais Nin, Cora Coralina, Carlos Nejar,  Olga Savary, Charles Bukowiski, Augusto dos Anjos, Anna Akmatova, dentre outros. Como estou sempre em busca de novidades, tenho descoberto nos meios de divulgação novos talentos que muito enriquecem meu universo poético-literário.

Como já havia dito, foi através da forma poética que encontrei expressão em minha adolescência. Os versos fluíam tão naturalmente e com tamanha facilidade que não pensava nas palavras, elas vinham e se apossavam de mim (risos). Me sentia um mero instrumento daquele "algo" que de mim se apoderava, a inspiração. Com o passar do tempo fui me identificando com os outros gêneros, como o conto e a crônica, encontrando hoje uma fluência na escrita dos mesmos, mas a poesia continua sendo a minha paixão e a minha forma de catarse.

Com o advento da internet e sua larga propagação, minha produção literária se expandiu significativamente,  tendo criado blogs pessoais nos quais exponho meus textos e através da participação em espaços literários com os quais tenho contribuído efetivamente. Minha escrita, então, deixou de ser um ato solitário, guardada nas páginas de um caderno de notas, passando a ser compartilhada com inúmeras pessoas, dentre elas, outros escritores da nova geração.

Magno Oliveira: Recebeu apoio quando decidiu se dedicar a cultura?

Ianê Mello: Sempre recebi o exemplo e incentivo de meus pais com relação a cultura, uma vez que ambos eram professores e leitores assíduos. Recebi grande incentivo paterno de me formar como professora, prestar concurso público para o cargo e posteriorrmente formar-me na faculdade de Pedagogia, concluindo o curso de Pós-graduação como Pedagoga e Orientadora Educacional. Assim, me dediquei vários anos a educação pública, lecionando como professora e exercendo a atividade de orientadora educacional em escolas do município.

Além disso, ainda na minha adolescência, quando descobriu a minha aptidão para a escrita de poemas, meu pai sempre me deu grande incentivo. Queria muito, inclusive, me ajudar a publicar um livro, o que, infelizmente não foi possível.   
No presente, conto com o incentivo de meu esposo, que também é escritor, Beto Palaio. 

Magno Oliveira: Conte para nós algo que lhe alegrou e algo que lhe aborreceu em relação a cultura?

Ianê Mello: Minha experiência com a cultura provêm não só do ato de escrever, mas também, como já mencionei anteriormente, pelo fato de ter sido professora e orientadora em escolas públicas. Naquela época  sentia prazer em lecionar e acreditava que poderia contribuir para mudar o "status quo". Tinha como objetivo formar alunos pensantes, com capacidade de questionamento e ação. Meu grande ídolo era o educador Paulo Freire e seu livro " Pedagogia do oprimido" era meu guia.Nele falava na educação transformadora contrapondo-se à educação bancária, onde o aluno era um mero receptáculo de informações. Minha decepção com a cultura começa daí, por ser o professor mal remunerado, não tendo seu verdadeiro valor reconhecido, fato que nos dá uma amostra do quanto a educação e cultura são desvalorizadas em nosso país. Tal fato, inclusive, me fez ter que desistir da minha profissão, procurando por outra em que houvesse melhor remuneração.

Com a escrita se dá o mesmo fato. O ato de escrever é algo que me complementa e me faz feliz. Não consigo me ver sem a atividade da escrita e a ela tenho me dedicado com afinco, sendo o desenvolvimento que tenho alcançado ao longo dos anos para mim muito gratificante, fazendo-o por gosto, por prazer, sem ter nem esperar disso retorno financeiro. Reconheço e isso muito me entristece, que se dependesse dela para sobreviver seria algo muito difícil, como o foi um dia como educadora. A cultura  em nosso país, bem como tudo que dela provém,  não é suficientemente valorizada ao ponto de obter-se uma independência financeira. 

Pela formação que tenho,   tal fato me deixa indignada,  pois vejo a cultura como o bem mais precioso que um ser humano pode adquirir. É desanimador ver professores, escritores, artistas e todo o contingente de individuos ligados a cultura, passando inúmeras dificuldades. Isso é de cortar o coração.
Magno Oliveira: Você se considera escritora?

Ianê Mello: "Escritor é o artista que se expressa através da arte da escrita, ou, tradicionalmente falando, da Literatura. É autor de livros publicados, embora existam escritores sem livros publicados (chamados, por alguns, de amadores)."
Esta definição se encontra na Wikipédia.

Bem, acho particularmente delicado atribuir-se esse estatuto de escritor. Chamar-se a si mesmo de escritor pode passar a idéia de certa falta de modéstia (riso). Por isso quis acrescentar à minha resposta essa definição. Baseando-me nesta, diria que sim, poderia me dizer escritora, no sentido lato, pois me expresso através da escrita. Mas como me é desconfortável ainda essa auto-denominação, prefiro dizer que sou aprendiz de escritora, pois estou em processo, sempre aprendendo e me desenvolvendo.


Magno Oliveira: O que os leitores podem esperar de ti?


Ianê Mello: Bem, Magno, primeiramente quero agradecer-lhe pela oportunidade de participar do Folhetim Cultural como colaboradora.

Será um prazer para mim.

Os leitores podem esperar por textos de minha autoria nas áreas da poesia, conto, crônica e vídeo-poemas. 

Minha escrita costuma ter uma intensa carga emocional, sendo por vezes autobiográfica, em outras ficcional e noutras, ainda, um misto de ambos.
O ato de criar é, para mim, uma verdadeira catarse de emoções, onde permito que estas fluam como as águas de um rio, livremente.

Assim sendo, em meus textos não me atenho a regras fixas, que a meu ver só limitam o processo criativo.

Espero que apreciem minha contribuição.


Magno Oliveira: O que você espera do Sentires Poético?

Ianê Mello: O que espero desse espaço está em consonância com o que podem de mim esperar. 

Logo, espero exercer essa liberdade de exprimir-me, divulgando meu trabalho e podendo contribuir de forma efetiva com esse espaço, fazendo jus ao convite recebido. 

13 comentários:

  1. Parabéns Magno, esse Folhetim vai ser pequeno para tanta gente boa aqui dentro.
    Ianê seja benvinda, puxe uma cadeira e sinta-se em casa.
    O Magno trás as cervejas e a Bárbara serve os bolinhos de bacalhau!
    Em tempo, Ianê, se vc escreve, vc é sim escritora!

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  2. Ianê!

    Foi um prazer enorme ver você no espaço "Folhetim Cultural". Nós todos ganharemos com isto!

    Parabéns!

    Beijos

    Mirze

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  3. Olá, Ranzinza!
    Agradeço a caloroso recepção.
    Já me sinto em casa.

    Bjs.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Obrigada, Magno pela oportunidade de participar desse maravilhoso espaço cultural.

    Espero fazer jus ao convite, dando o meu melhor.

    Grande abraço.

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  6. pois é...
    ainda estou esperando pelas cervejas e bolinhos de bacalhau...

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  7. Mirze, querida amiga, que prazer te ver por aqui!
    Obrigada pelo incentivo.
    Beijo grande.

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  8. Degusto a escrita de Ianê Mello já há algum tempo. Igualmente agrada-me o seu senso crítico. Ianê é transparente em suas emoções fortes; dona de uma mente inteligente a nos encantar com sua escrita de vivência existencial, social e estética. Encara a tarefa de escritora com prazer e dedicação esmerada. Sinto-me tocada por ter igual querer. Essa paixão de ir ao encontro do desconhecido, por uma questão absolutamente existencial, pela arte como necessidade vital. Ao se julgar um aprendiz mostrou-se um tanto severa com sua arte. Onde está o ponto que separa o aprendiz do mestre? A consagração talvez.
    Parabéns Ianê e Magno Oliveira.

    (Andrea Lizarb – outro aprendiz?)

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  9. Andrea, com que emoção li seu comentário! Fico feliz por sentir dessa forma tão intensa meus escritos.
    Considero-me aprendiz e sempre o serei, querida, pois estarei sempre aberta a novas possibilidades, o que me torna eternamente uma aprendiz. A cada momento me redescubro, me acrescento, nunca me permitirei a estagnação pois ela é o pior inimigo da criação.

    Sabes também o quanto lhe admiro!

    Muito obrigada pelo carinhoso comentário.

    Grande bj.

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  10. well, well...rs

    Ianê Mello já mora em nossos corações, faz tempo ! (um dia quero ter o privilégio de conhece-la "in persona"...não faltará oportunidades...rs)

    Já de começo, gostei da surpresa : Ianê deu o "start" com a Música !...Através dela é que foi impulsionada à futura arte da escrita, que brevemente despontaria...E eu, particularmente, sou desse time (música) !Nada me agradaria mais !

    Depois, demonstra ser uma "devoradora" de cultura de todos os matizes, o que "justificaria" a sua escrita, sempre muito elaborada, sofisticada sem ser pedante, cativante, e principalmente precisa em tudo que se propõe adentrar.

    Na sequência, aí "me ganhou" com tudo...rs : é "fã" de Paulo Freire, um dos maiores educadores desse país, e "no gancho" mostra ser ( ou ter sido...) uma professora e tanto, com ciência e consciência !

    Para nós, e ouso falar por todos que a conhecem a ao seu trabalho como "artista da pena" , Ianê é peça fundamental da nossa "engrenagem de letrinhas", e já tornou-se indelével, sem sombra de dúvidas !

    Ótima entrevista, pela entrevistada e entrevistador !

    meus parabéns, um beijo,Ianê, um abraço, Magno !

    Joe

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  11. Querido amigo Joe, quanta emoção ao ler seu comentário!

    Minha maior felicidade é saber que meus escritos tocam a alma do leitor, de forma intensa, deixando nele um pouquinho do meu sentir.

    Para mim, que por você tenho grande admiração há longa data, é uma verdadeira honra tê-lo como leitor. Você, um escritor de mão cheia...rs.

    Espero também, sinceramente, que um dia possamos nos conhecer pessoalmente, o que será uma alegria muito grande.

    Obrigada pele sua presença e pelo seu incentivo, são palavras assim nos impulsionam em nossa caminhada.

    Beijo grande.

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