segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Especial dia 30 dia da Saudade! Chá das 5: Bruno Martins


Hasta luego se Dios quiera

Ola que tal?
Estoy muy bien e tu?
Estoy muy bien gracias...
Pero aora me voi por las calles.
Entonces hasta luego se Dios quiera...
A conversa era assim rápida o menino não tinha muitos argumentos para conversar em outro idioma com seu velho amigo já um homem de cabelos grisalhos de nome Armando.
Armando era um brasileiro, aventureiro que adorava conversar em castelhano com seus amigos. Tinha assunto pra tudo de poesia à política quando queria escrever algo para a sua coluna no jornal da cidade Armando andava pelos bares da cidade em busca de inspiração era só encontrar alguém que não via há muito tempo e pronto, havia encontrado ali também o tema para escrever seu texto.
Quando eu tinha dezesseis anos minha irmã me matriculou num cursinho de espanhol, aceitei fazer até porque não tive outra opção. Éramos um grupo de nove a dez pessoas e nos reuníamos numa casinha no centro da cidade, o professor era um homem já aposentado que deu aula de história a vida inteira, mas que nunca havia feito um curso de espanhol. Machado como era chamado pelos alunos aprendeu esse idioma graças a sua paixão e influência que teve de alguns amigos que moravam em países como Uruguai, Chile, Argentina entre outros de sotaque castelhano. Pagávamos apenas vinte reais por mês mais as copias que ele tirava de suas apostilas. Mas com o tempo a turma que já era de poucos alunos foi se acabando e levaram com eles o desejo que aquele professor tinha em nos ensinar o que havia aprendido sozinho. O curso durou apenas um ano, mas eu e o Machado nunca perdemos o contato sempre nos esbarrávamos por ai, conversávamos de tudo e eu sempre o abordava perguntando quando ele voltaria a dar de novo “Las clases de Español?...”
Certa vez eu havia escrito um texto e mandei para o Armando ler e dar a sua opinião a respeito do assunto que abordei, eu por duas vezes fiz isso e ele sempre me deu boas sugestões de concordâncias e melhor uso das palavras...
Machado também foi escritor, por muito tempo havia sido redator de uma coluna de esportes do jornal da cidade, um são paulino de coração Ponte pretano que não escondia a sua paixão pela Macaca.
Uma semana antes de sua morte Armando escreveu sua última coluna no jornal da nossa cidade “Sala de espera.” Tão simples que até para morrer foi poeta, morreu em silêncio sem dizer nada para ninguém, morreu como um aventureiro que sempre foi.
Naquela mesma noite Machado viajou como de costume só que dessa vez para o exterior da vida, uma viagem sem volta que apenas deixou a lembrança das boas aulas de espanhol e das conversas que tínhamos pelos bares a fora.
Nem tive tempo de arrumar alguma maneira de apresentar o Armando para o Machado, eram tão parecidos que poderiam sim ser bons e velhos amigos, mas o tempo não permitiu que esse momento acontecesse.
Ao amigo Armando Machado conhecido pelos íntimos como professor Machadinho um homem que para mim nunca morreu, porque me ensinou que nessa vida uma morte só é pouco; termino assim essa crônica como sempre terminei nossas conversas.
Hasta luego se Dios quiera!
Bruno Martins
10/01/2011
Armando Machado

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