terça-feira, 9 de outubro de 2012

Em entrevista: João Acaiabe fala da experiência com o público infantil‏



Nascido e criado em Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista, João Acaiabe iniciou sua trajetória com o público infantil em 1983, no programa Bambalalão, da TV Cultura. Desde então, outras oportunidades de trabalho com as crianças, adolescentes e jovens surgiram, pelas quais o artista busca incentivar a leitura e tentar mudar a realidade por meio da palavra.
Acaiabe já atuou com grupos de teatro em comunidades periféricas e com alunos da Febem para afastar os jovens das drogas. Há 16 anos, ele dá aulas de teatro no Colégio Santo Américo, em São Paulo, com a tarefa de sensibilizar os filhos dos empresários da cidade. De 2001 a 2008, ele interpretou o personagem Tio Barnabé, na série Sítio do Picapau Amarelo, exibida pela TV Globo.



Em agosto de 2011, o artista esteve em Suzano como parte do elenco do espetáculo “O Anjo de Pedra”. Desta vez, o artista voltou à cidade com uma tarefa diferente: incentivar a leitura.  “Contos e Cantos do Folclore Brasileiro”,


Você contou para as crianças que suas histórias estão guardadas em gavetinhas em sua cabeça. Como elas chegam lá?

Faço essa brincadeirinha com as crianças para fazer um link com a biblioteca, o livro e assim por diante. Respondendo a sua pergunta, e também embarcando nessa brincadeira, as histórias chegam às gavetinhas a partir da leitura. Quando não tenho ninguém para me contar as histórias, eu vou nos livros e leio. Eu mostro para eles que na biblioteca há uma quantidade enorme de livros. O livro do Saci, por exemplo, traz vários relatos de pessoas que dizem ter visto o Saci. Isso dá uma veracidade para a história que será contada. Uso bastante os instrumentos de percussão, como o carrilhão quando abrem as gavetinhas das histórias. E daí, como eles já estão embarcados, posso contar a história que quiser. Observo muito a atenção deles. Peço sempre um corredor para atender as crianças que estão no fundo e acabam se distraindo. Ando bastante, o que não é muito comum entre os contadores de história. Com isso, a criança busca o que vou fazer lá atrás e, assim, elas estão comigo o tempo todo.


Qual o seu maior objetivo quando conta e seleciona as histórias que serão contadas?

É muito difícil. Hoje, por exemplo, eu estava aqui e não sabia quais histórias iria usar.

Você decide na hora?

Decido um pouquinho antes. Eu vejo a plateia que tenho. Hoje, como tinha uma platéia agitadíssima, se contasse primeiro o macaco e a velha, não teria como segurar as crianças depois. Então, contei primeiro a história do Felipe, que fala do clima, da chuva de granizo e isso acalma um pouco. Quando vejo que eles estão perdendo um pouco a atenção, faço os jogos de adivinhação, as brincadeiras com os adultos e com a parlenda. A escolha da história é muito importante. Se tenho uma platéia só de adultos, escolho uma história que ou remeta para a infância dele ou, se estão com uma criança, conto para a crianças e pego eles também.

Você perguntou sobre o objetivo. Eu sou filho da Ditadura Militar. Na minha juventude ainda não existia, mas foi instalada em 1964 e depois em 1968 apertou tudo e não consegui fazer muita coisa, porque demos com os burros n’água. Porém, não totalmente, porque todas as liberdades democráticas que existem hoje vieram da luta contra aquele momento. Hoje em dia, que não posso mais fazer isso, com a palavra acho que posso mudar e modificar uma porção de coisas. A palavra é fantástica.

Qual a melhor parte de trabalhar com crianças?

Eles são muito sinceros. Se você não tiver lidando bem com eles, levantam, se agitam. O bacana é que você tem um termômetro no olhar deles e do adulto não. Ele abre a boca às vezes de forma involuntária, mas com a criança não tem isso não. Ou você agrada ou não agrada. Isso é gratificante e estou fazendo isso há muito tempo. Fiquei no programa Bambalalão desde 1983 contando histórias. Nem sempre foi assim, pois sou ator, faço teatro, televisão e fui contar história nessa altura da minha vida. Parece incrível, mas fui me direcionando para o público infantil sem ter uma ideia prévia. Foi passando e as coisas foram acontecendo. O Sítio é bem mais recente. Agora venho fazendo o Viagem Literária, no qual faço esse link com os livros, estimulando a leitura. Tem acontecido coisas espetaculares. Tinha uma menina que está escrevendo e frequentava a biblioteca, encontrei com ela em Valinhos. O nome dela é Ingrid Couto. Ela foi levar o caderno para eu dar um autógrafo e eu vi que ela escrevia poemas. Pedi para ela ir na sessão da tarde para ler os poemas para as crianças para estimulá-las a vir à biblioteca. Na hora que peguei o caderno perguntei: “você quer que eu leia?”. Ela disse: “Não. Eu mesmo leio”. Ela extremamente tímida, mas leu. Aquilo foi de um impulso na vida dela, que hoje ela está escrevendo poemas e publicando na ONU, musicalizando para cantar a paz. É algo fantástico. Hoje ainda conversei com o Miranda (músico que acompanha o artista no projeto) e faz quatro anos que fazemos o Viagem Literária. Então, quantas Ingrids podem ter aparecido nesse trajeto? Peguei o livro do Sacolinha e fiz o link, porque essas crianças podem perceber que lendo e escrevendo elas trabalham a imaginação. Daí poderão ser escritores ou jornalistas, futuramente, ou fazer qualquer outra coisa que estimule a mente e não ficar nesse mundo violento que vemos aí. Se ela trabalha a imaginação, conseguirá ter uma vida muito mais ampla.

Contato com o Folhetim Cultural: folhetimcultural@hotmail.com 
Fonte: SECOM - Suzano
Postagem: Magno Oliveira


Sábado e domingo no Folhetim Cultural de manhã coluna No Café da Manhã com Poesia por Magno Oliveira.

12 horas Na Hora do Almoço com Poesia por Beto Ribeiro...


       

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