segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Prêmio Jabuti cria polêmica no meio literário

Foto: AE

Chico Buarque e José Luiz Goldfarb, presidente da comissão do Prêmio Jabuti, na festa em São Paulo

A decisão da editora Record de abandonar o prêmio Jabuti, anunciada na semana passada, chamou a atenção para o regulamento da festa, promovida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Autores como Laurentino Gomes e Cristóvão Tezza, laureados em edições anteriores, defendem regras mais claras para a escolha do vencedor de Livro do Ano, entregue para “Leite Derramado” (Companhia das Letras), de Chico Buarque, que havia ficado em segundo lugar na categoria Romance na primeira fase do prêmio, atrás de "Se Eu Fechar os Olhos Agora" (Record), de Edney Silvestre. Contestada, a vitória motivou a criação de uma petição online, intitulada “Chico, devolve o Jabuti!”, com quase 6 mil assinaturas.

Em seu blog, Laurentino Gomes – autor do best-seller “1808”, ganhador do Jabuti de Melhor Livro-Reportagem e Livro do Ano de Não-Ficção, e “1822”, há dez semanas na lista dos mais vendidos – afirma que o afastamento da Record é ruim para a existência de um “mercado editorial ágil e vigoroso” no país e compara a situação ao impasse da revista Veja nos anos 1990 com os critérios de avaliação do prêmio Esso de Jornalismo. A revista decidiu não concorrer mais à premiação e o Esso, segundo ele, perdeu a relevância. “É preciso evitar que isso se repita com o Jabuti”, escreve. “A hora é de negociação e entendimento, não de confronto. A literatura brasileira merece esse esforço.”

Criado em 1957, o Jabuti se tornou ao longo das décadas o prêmio mais prestigioso da literatura nacional. A partir de 1991, além do troféu por categorias, passou a entregar o prêmio de Livro do Ano de Ficção e, dois anos depois, também o Livro do Ano de Não-Ficção. A primeira fase da premiação conta com um júri de três especialistas por categoria – 21 no total, como Romance, Poesia, Tradução e Capa, por exemplo –, que distribuem os vencedores entre primeiro, segundo e terceiro lugar. Para Livro do Ano, todos eles concorrem, não só o primeiro colocado, e o ganhador é escolhido a partir dos votos dos associados da CBL, que envolve ainda entidades como o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Associação Nacional de Livrarias (ANL) e Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL).

Na última década, ao menos em outras duas ocasiões o vencedor de Livro do Ano também não venceu em sua categoria original. Em 2004, Chico Buarque, terceiro colocado em Romance com “Budapeste”, foi o escolhido, enquanto “Mongólia”, de Bernardo de Carvalho, havia sido o eleito pelo júri. Em seu site oficial, a CBL cita a incongruência como um “fato curioso” na história da premiação. Em 2008, a mesma coisa aconteceu: Cristovão Tezza, que arrebatou a grande maioria dos prêmios literários da época com “O Filho Eterno”, inclusive o Jabuti na categoria Romance, viu o Livro do Ano nas mãos de Ignácio de Loyola Brandão, segundo lugar na categoria infantil com “O Menino que Vendia Palavras” – “Sei Por Ouvir Dizer”, de Bartolomeu Campos de Queirós, era o primeiro.

“Desrespeito” ao júri

Em entrevista ao iG, o presidente do Grupo Editorial Record, Sérgio Machado, admite que a primeira fase do prêmio é conferida por especialistas e a segunda, o Livro do Ano, representa, de certa forma, os empresários do setor. Machado, no entanto, não acredita no mérito de uma premiação assim, que, segundo ele, pelo número de votantes, favoreceria pessoas com maior capacidade midiática, caso de Chico. Além disso, duvida que os participantes tenham lido os concorrentes. “Vocês estão dizendo que ‘Leite Derramado’ é melhor do que ‘Se Eu Fechar os Olhos Agora’? Quem leu, não achou.”

Para o empresário, o objetivo de um prêmio literário é surpreender e revelar, “indicar o novo”, não aquilo que o leitor já conhece, e alfinetou mais uma vez os colegas e a CBL, afirmando que, se a ideia é contrariar os jurados, o Livro do Ano podia ser entregue a qualquer obra, não só aos finalistas da primeira fase. “Se de fato o setor entende que os júris não são confiáveis, capacitados, então por que restringir a eleição aos três primeiros colocados?”, pergunta. “Esse regulamento é desrespeitoso com os autores, que perdem, e o júri, que vê sua escolha técnica desautorizada publicamente.”

Na opinião de Laurentino Gomes, uma solução justa, transparente e fácil de entender seria que só os ganhadores de cada categoria pudessem concorrer. “Essa lista tríplice deixa um grau de relativismo sobre o que se está julgando, se qualidade literária, venda, nome do autor... Cria polêmica onde não deveria ter.” Por isso mesmo, Cristovão Tezza, embora receoso ( “tudo o que eu disser pode soar em defesa de causa própria”), defende regras claras para a premiação. “É preciso critérios mais literários, objetivos. A marca Jabuti é um patrimônio brasileiro, de grande relevância, que às vezes deixa de ser por questões esdrúxulas, incompreensíveis para o leitor comum.”

Fonte: Portal IG

Postagem: Magno Oliveira

5 comentários:

  1. Venho por este meio agradecer e retribuir a sua visita ao meu espaço e aproveitei para mergulhar no conteúdo do seu blog que desde já apresento os meus parabéns.

    Gostei muito de passar por aqui

    Um abraço
    Luis

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  2. Obrigado Luís por retribuir a visita que fizemos a seu belo blog.
    Obrigado aos elogios direcionados ao blog agredeço, nós blogueiros temos que sermos unidos.

    Outro abraço...

    Magno OLiveira

    Folhetim Cultural

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  3. Recebi da querida Ana Paula...

    Oi Magno! Já estou te seguindo e coloquei seu blog como meus preferidos de leitura.
    Até mais,
    Ana Paula

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  4. Obrigado pelo carinho e atenção!
    Fico lisongeado com seu cairnho e sua audiência.
    Ass: Magno Oliveira
    Folhetim Cultural

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  5. "Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo", além da lógica, é claro:
    http://exiladonomundo.blogspot.com/2010/12/logica-do-dragao.html

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