terça-feira, 9 de agosto de 2011

Devaneios do Ranzinza por Roberto Prado


Roberto Prado, 49 anos Santos, São Paulo.



Publicou dois livros, é funcionário público. Talentoso escritor, irá escrever aos sábados 10 horas da manhã, no Folhetim Cultural com reprise nas terças ás 20 horas. Pelo Folhetim ainda escreverá uma vez ao mês no Chá das 5.
Blog do Roberto Prado: http://blogdonemesis.blogspot.com/
Twitter do Folhetim: http://twitter.com/#!/folhetimcultura
E-mail do Folhetim Cultural: folhetimcultural@hotmail.com
E-mail: rpjbarbosa@fazenda.sp.gov.br


Crises E Mais Crises





12h00minhs


Meia hora em frente ao espelho do banheiro da repartição fazendo maquiagem, outros tantos minutos penteando os cabelos, olha para as unhas, vira de costas e quase quebrando o pescoço, vê como está a sua roupa recém-comprada (modelo exclusivo, disseram a ela!)

Saí e vai à rua almoçar seus legumes e verduras.

Olha-se em todos os reflexos das vitrines por que passa, sempre ajeitando, ora a roupa, ora o cabelo, ora um detalhe qualquer. No restaurante, escolhe a mesa mais bem localizada, de preferência na entrada, para que possa ser vista por quem entra.

Manipula os talheres com graça e leveza, observando as mãos. Tem com elas uma implicância patológica, acha que as sardas traem a sua idade.

- Não fosse esse um país tropical, andaria de luvas o ano inteiro... - reclama baixinho. - Tantos cuidados, tanta vaidade, quanto dinheiro gastos em cremes para o corpo, cremes para os cabelos, esmalte para as unhas, e essas mãos traindo a minha idade...

Terminada a refeição, sai à rua para tomar um pouco de sol antes de voltar para a repartição e amarelar-se até ás dezoito horas.

Olha em volta de si enquanto anda, tanta gente jovem e ela ali envelhecendo, enrugando-se, azedando-se cada dia mais.

 Execrando o elevador ela sobe a escada nervosa, pensando com seus botões:

- Assim subindo as escadas acabo engrossando as panturrilhas!

Quando chegar em casa à noite, vai socar o filho que a tornou avó!

- Ele não perde por esperar...


18h00minhs


Fim do expediente, na rua, o carona de sempre a espera impaciente.

No carro.
Chove fininho, o limpador dos pára-brisas indo de lá para cá. O trânsito, carregado.

Dentro do carro, o casal calado. Olham para frente, esperando uma chance de se deslocarem, saírem do lugar, poucos metros que sejam.

Falta assunto.

A razão? Não vem ao caso e nem nos interessa...

Para quebrar o gelo, o homem, comenta, tentando, quem sabe melhorar o clima:

- Nunca mais essa rádio tocou a nossa música, não é?

No que a mulher entre ríspida (afinal ela está ao volante) e com pouco caso:

- Nossa música? Desde quando nós temos uma música? Você tá viajando? Vê se entende uma coisa de uma vez por todas, isso é só carona, não sou sua mulher, não sou sua namorada e nada sua, além da pessoa que lhe dá carona, compreendeu isso de uma vez por todas?

De repente parece que o engarrafamento nunca mais irá acabar. A chuva engrossa, e o rádio não toca a música “deles”...

E o clima dentro do carro piora.

Ela pensa:

- O que vou fazer para o jantar...?


19h35minhs
(aqui cabe uma cena dramática)



Cenário: Banheiro cheio de vapor.

Ela sai do banho.

Pega a toalha e começa a enxugar-se lentamente.

Passa a mão no espelho para limpar o vapor e deixa a toalha cair no chão. Mira-se no espelho, vê um cravo.

Aproxima-se um pouco mais no intuito de espremê-lo.

Olha-se profundamente no reflexo, apóia a mão no lavatório.
Soluça e começa a chorar.

- Onde eu errei meu Deus, onde?

O jantar atrasa hoje.

2 comentários:

  1. Hoje estou passando apenas para lhe fazer um convite.
    Estou falando do www.superlinks.blog.br que é um site agregador que vale a pena visitar, pois é mais um espaço no qual você poderá publicar seus links de matérias, pois é um site sério e com critérios bem positivos.
    Espero que goste da dica.
    Um grande abraço

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  2. Dica anotada!
    Obrigado.



    Ranzinza

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