quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Scorsese materializa paixão pelo cinema em "A Invenção de Hugo Cabret"


Disfarçado de produção infantil, filme celebra primórdios da arte e pioneirismo de Georges Méliès


Campeão de indicações ao Oscar 2012, "A Invenção de Hugo Cabret", que estreia nesta sexta-feira (17) no Brasil, vem sendo divulgado como o primeiro filme para crianças de Martin Scorsese. Não é tão simples assim.
Verdade que "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros", por exemplo, não são nada recomendados para o público infantil, mas a questão é que "Hugo", antes de tudo, fala da história e magia do cinema. Mais do que uma aventura ou conto de fadas em 3D, Scorsese, um cinéfilo inveterado, transformou o projeto numa declaração à arte que ama.
















Foto: Divulgação
Asa Butterfield e Chloë Grace Moretz em "A Invenção de Hugo Cabret": a magia da sala escura



O livro de Brian Selznick já partia dessa premissa para compor a história do órfão Hugo Cabret, de 12 anos. Após a morte do pai (Jude Law), o garoto (Asa Butterfield) fica morando escondido entre as paredes de uma estação de trem na Paris da década de 1930. Para não chamar a atenção, dá corda e conserta todos os relógios do local, como o pai, relojeiro, lhe havia ensinado.















Foto: Divulgação
Martin Scorsese numa ponta em "Hugo Cabret": cinéfico inveterado


 Sua única herança e consolo é um velho autômato, uma espécie de robô de forma humana, que, se acionado por uma chave com formato de coração, revelaria, ele acredita, uma mensagem para acabar com seus problemas – como, por exemplo, o inspetor da estação (Sacha Baron Coen, o Borat), implacável perseguidor de órfãos.

 Esse é o pano de fundo até a chegada da verdadeira polpa do filme. Ao tentar roubar um brinquedo de uma pequena loja da Gare du Nord, Hugo é surpreendido pelo dono, o amargo Georges (Ben Kingsley), que confisca uma caderneta do menino, cheia de anotações de seu pai sobre o autômato. 
Para recuperá-la, o menino vai contar com a ajuda de Isabelle (Chloë Grace Moretz, de "Kick Ass"), filha de criação de Georges.
 A questão é que o dono da banca é ninguém menos do que Georges Méliès, pioneiro do cinema mundial. Mágico de profissão, Méliès ficou maravilhado pelas possibilidades do cinema apenas um ano depois de sua criação pelos irmãos Lumière, em 1895. Com corte precisos, viu que poderia fazer um ator aparecer e desaparecer, como num passe de mágica, e a partir daí criou um mundo de humor e fantasia: diretor, roteirista, produtor e ator, fez mais de 500 filmes, incrivelmente populares para a época. Entre eles, está o imortal "Viagem à Lua" (1902), primeira ficção científica da história celebrizada pela imagem do foguete encravado no olho da lua.
 A partir daí, "Hugo Cabret" vira praticamente uma cinebiografia sobre a vida de Méliès, que faliu após a Primeira Guerra Mundial. E falar de Méliès é visualizar um mundo povoado por selvagens, extraterrestres, criaturas marinhas, dragões e cabeças dançantes. Um mundo mágico, ou como o cineasta diz a certa altura para um menino que visita seu estúdio (uma casa feita inteira de vidro para facilitar a entrada de luz): "É aqui que os sonhos são feitos".

Foto: Divulgação
Ben Kingsley no pôster do filme: imagem de "Viagem à Lua" aparece no fundo


 As 11 indicações ao Oscar são absolutamente merecidas: tecnicamente, o filme é um assombro, da direção de arte, cenografia e trilha sonora, deliciosamente kitsch ao recriar a França em estúdios ingleses, ao uso do 3D, que impressionou até mesmo James Cameron. A ideia é assistir a apenas um filme com aqueles incômodos óculos em 2012? Esse é a escolha perfeita.
 Se há um porém em "A Invenção de Hugo Cabret" é justamente a aura infantil: para atingir seu público, o roteiro de John Logan ("O Aviador") às vezes exagera nas explicações ou no sentimentalismo. Talvez por isso o filme não tenha sido tão premiado até agora quanto "O Artista", outro a homenagear a história do cinema, mas sem o orçamento milionário de Scorsese (US$ 150 milhões). É, no entanto, tão ou mais apaixonante.



Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br
Postagem: Natan Fellipe
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