sexta-feira, 1 de junho de 2012

Devaneios do Ranzinza por Roberto Prado: CINQÜENTA ANOS (só você meu cigarro me compreende)


Roberto Prado colabora com o Folhetim Cultural desde o início de 2011, Devaneios do Ranzinza aos sábados ás 21 horas e o Chá das 5 uma vez ao mês no sábado. Roberto Prado já publicou dois livros pela (CBJE) Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Gringas e Outras Histórias está na segunda edição.





Devaneios do Ranzinza sábados 21 horas

Chá das 5 sábados 17 horas


Folhetim Cultural no Twitter



CINQÜENTA ANOS
(só você meu cigarro me compreende)



Cinqüenta anos...
E teimo com o trema
Cinqüenta anos...
E daí?
Meio século de vida...
Tartaruga vive mais que isso!
Cinqüenta anos...
Tantos sonhos
Perdidos
Outros tornados
Pesadelos
Perdi cabelos
Ganhei barriga
Umas rugas
Cinqüenta anos...
Vejam só...
Grande bosta
Vos digo, grande bosta!
Trocaria tudo o que aprendi
(quase nada vos garanto, quase nada)
Para ter o tesão dos vinte!
Cinqüenta anos...
Nada no banco
Ou nos bolsos
Cinqüenta anos e
Sou o pesadelo dos cobradores
Dos planos do passado
(quase nada realizado...)
Sobrou-me somente contar os dias
Para a aposentadoria...
Cinqüenta anos...
Cheguei à idade em que nos jornais
Não leio mais as manchetes
Mas o necrológio
Torcendo para não ver o nome de nenhum amigo...
(cinqüenta anos prá quê?)
Cinqüenta anos
Nunca esperei por isso, nunca!
Aos dezoito bradava:
Morrer aos trinta e cinco, aos trinta e cinco!
Não me perguntem porquê...
Mas ultrapassei a data limite e cheguei aos
Cinqüenta anos!
Os amigos de chopes diminuíram
Uns por pressão alta
(o sal das batatinhas)
Outros diabetes
(o açúcar das caipirinhas)
Outros por causa da barriga
Outros...
Cinqüenta anos...
Não vejo nisso uma vitória, não...
A memória (caridosa?) fez-me esquecer
Os grandes planos
Mas ainda funciona para os horários dos remédios...
(um empate com sabor de derrota)
Cinqüenta anos...
Não quero comemorações!
Não quero presentes!
Não quero tapinhas nas costas!
(até porque me ataca a tosse)
Quero o mesmo esquecimento,
Que experimento um pouco todos os dias...

Roberto Prado

Um comentário:

  1. Esquecer porquê?
    Se foi tudo verdade
    se foi tudo realidade
    esquecer porquê meu caro?

    Sorria, afinal, nós, as companheiras de homens de 50, com os nossos 45, achamos voces o máximo!

    Abraços

    Leila

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