segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Brasil faz questão de esconder Xingu", afirma Cao Hamburger


"Xingu" é uma rara superprodução brasileira com engajamento ambiental. Há um caráter épico e de aventura indiscutível na saga dos irmãos Villas-Bôas em desbravar o centro do país e fundar o Parque Nacional do Xingu, principal trunfo para atrair espectadores, mas o que se viu nesta terça-feira (27), durante coletiva de imprensa em São Paulo do diretor Cao Hamburger e da equipe do filme, foi um forte discurso em favor da preservação do local.
O projeto partiu de Fernando Meirelles, um dos sócios da O2 Filmes, que atendeu aos apelos insistentes de Noel, filho de Orlando Villas-Bôas, e leu o relato da expedição Roncador-Xingu, "A Marcha para o Oeste". "Vi que ali tinha uma história incrível", conta Meirelles, que, assumindo o papel de "garoto de recados", entregou a ideia nas mãos de Cao Hamburger ("O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias") e só atuou no filme como produtor. Para interpretar os irmãos, foram escalados João Miguel, Felipe Camargo e Caio Blat, respectivamente Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas.
Foto: Divulgação
Felipe Camargo, Caio Blat e João Miguel, os irmãos Villas-Bôas em "Xingu"
Segundo Hamburger, o livro é um dos poucos relatos escritos sobre a criação do Parque do Xingu, em 1961, consequência do trabalho dos Villas-Bôas, que viram a necessidade de garantir um "estado" indígena para preservar do avanço civilizatório as tribos e etnias intocadas que eles próprios descobriram e outras ameaçadas Brasil afora.
Boa parte do que se sabe daquela época está apenas na memória de quem testemunhou os fatos. Por conta disso, a equipe do filme precisou viajar várias vezes ao Xingu em busca de informações para o roteiro, escrito por Hamburger, Anna Muylaert e Elena Soarez. "A primeira viagem é a mais chocante, o deslumbramento com um mundo mágico, uma civilização diferente e desenvolvida", conta o cineasta.
Foto: AE
O diretor Cao Hamburger e Felipe Camargo durante entrevista de "Xingu" em São Paulo
"O que me interessa é o que nós podemos aprender com essa cultura, um tesouro que o Brasil faz questão de esconder e desprezar. Está perdendo a chance de usar todo esse conhecimento", continua Hamburger. "A ideia é que a gente repense nossa sociedade, com sua violência, agressividade, prepotência, e qual é o famigerado progresso que a gente quer."
É uma referência clara à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na opinião de Meirelles a "Transamazônica de hoje", para falar de uma ameaça ambiental contemporânea aos Villa-Bôas, e à destruição que avizinha o Parque do Xingu.
Caio Blat lembra que os sertanistas costumavam se referir à movimentação do homem branco rumo ao parque indígena, considerada inevitável, como o "Abraço da Morte", já visível nas fronteiras do Xingu, rodeado de plantações e queimadas. "Pode-se ver nitidamente o mapa do parque de cima, uma ilha de preservação, e a devastação se avizinhando."
Um dos atores do filme, o cacique Tabata Kuikuro fez um apelo para a região, no norte do Mato Groso. "O único lugar em que vai sobrar mato é o Xingu. Ao redor, só tem soja. O rio [Xingu] já está muito raso e o peixe deve acabar em cinco anos, não vai ter mais. É uma situação muito difícil."
João Miguel e Caio Blat em cena de "Xingu" Foto: divulgação




"O problema do rio Xingu é que ele não nasce no parque, mas em três afluentes", complementa Felipe Camargo. "Essa água é o 'supermercado' dos índios. Se esses rios não forem tratados e preservados, o Xingu estará em vias da extinção."
Índios são atores "natos"
Tabata é apenas um das dezenas de índios que participaram das filmagens. Os responsáveis pelo "casting" fizeram uma ampla pesquisa nas tribos da reserva em busca de interessados, que depois participaram de workshops e oficinas de interpretação.
Não que o cinema fosse novidade para os índigenas – o próprio Tabata já havia atuado em uma série de Washington Novaes para a TV e seu sobrinho, Takumã Kuikuro, é um dos diretores do documentário "As Hiper Mulheres", premiado no Festival de Gramado 2011.
"Sem a escrita, a maneira que os índios têm de perpetuar sua cultura é a encenação, uma história física", comenta Felipe Camargo, lembrando uma tendência "inata" para a atuação. Dos ensaios, surgiram cenas e histórias novas que entraram no filme.
Emocionado, João Miguel garante que são eles, os índios, os verdadeiros protagonistas de "Xingu" e que o fascínio dos três atores principais pelos "8 mil anos de história" dessa civilização guarda uma estreita relação com o impacto que os Villas-Bôas sentiram na década de 1940, uma metalinguagem entre realidade e ficção, portanto.
"Criou-se uma sintonia muito grande [entre atores e índios]. Interpretar é um jogo, que aconteceu entre nós de maneira maravilhosa. Uma troca de culturas e diferenças, numa metáfora do próprio filme."
Os índios na sequência também entraram na jogada, fazendo trilhas com o elenco, tomando banhos de rio, seguindo a trilha de animais. Mas nem sempre juntos: Felipe Camargo conta que certa vez o trio principal, vestido a caráter, entrou sozinho mata adentro e foram surpreendidos por 20 índios com cara de poucos amigos e lanças na mão. "Fiquei com muito medo. Foi o exercício de interpretação mais intenso que já fiz na vida."Mas não foram só os indígenas que passaram pelo processo de preparação. Antes das filmagens, Blat, Miguel e Camargo foram a Palmas fazer oficinas com sertanejos, que ensinaram "segredos do mato": como encontrar água, comida e usar as ferramentas apropriadas.
A equipe também passou por maus bocados. "Foi a nossa produção mais difícil, a começar pelas condições climáticas. Em Palmas, fazia 44, 45 graus", conta a produtora Andrea Barata Ribeiro. "No Jalapão, um rastreador de cobras precisava fazer uma varredura no set antes das filmagens. Em Caseara, também no Tocantins, um dia o diretor de arte encontrou uma onça no cenário."
Trailer Oficial de Xingu











Fonte: Portal IG
Postagem: Magno Oliveira
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