quinta-feira, 24 de maio de 2012

Momento da Poesia com Bruno Martins: O amor da minha vida foi um neguinho



Sempre fui apaixonado por belas morenas, de coxas boas e belas nádegas. Muitas dessas morenas só tinham de belo a bunda, eram as famosas “Raimundas.” Até que em minha vida entrou o Neguinho.

Eu era apenas um moleque até que com o tempo ele me apresentou ao mundo, me mostrou a vida. O seu jeito acanhado aos poucos conquistou minha família inteira e quando vimos ele já fazia parte de nós, comia conosco, dividíamos a mesma cama.
O Neguinho não falava apenas se expressava numa maneira de nos pedir algo, nos enchia a paciência até que conseguíssemos entender qual era o seu pedido. Quando ele estava quieto eu chegava perto tentava ler a sua mente e adivinhar o que ele estava pensando, muitas vezes era falta de carinho um mimo bobo que para ele valia muito.

Neguinho tinha um velho hábito de encarar as pessoas olho no olho, era uma forma de conquistar o respeito. Certa vez uma garota veio até a minha casa, era tão magra que a pobre parecia ser anêmica, passou pelo Neguinho e se quer olhou para ele que irritado grudou no pescoço da garota. Foi difícil conte-lo aquele dia, mas ele apenas deixou uma marca de seus dentes, foi uma forma brutal que ele achou para conquistar o respeito já que ela se quer olhou nos seus olhos.

O tempo passou ele foi ficando doente, a cada dia ele ficava mais debilitado, incapaz se quer de latir para quem abrisse o portão de minha velha casa, sua mente já não falava mais comigo apenas o seu olhar que muitas vezes desviando-se de mim parecia me implorar “ajude-me.”

A tortura durou dois meses e meio não tive coragem de mandar sacrificá-lo, achava que as pessoas poderiam fazer sabão do pobre Neguinho. Até que a vida o levou e eu não pude fazer mais nada, fui até o pasto próximo a minha casa abri uma cova e enterrei sem cerimônias o cachorro que me apresentou ao mundo e que me ensinou que o respeito está no olhar de cada um. Orei pela sua alma e sai de lá com a certeza de que a sua morte até foi dolorida, mas no fundo foi prazeroso para ele morrer no lugar onde tudo começou.


“Ao meu cachorro Neguinho que em minha vida,

foi mais parente que muita gente.”

Bruno Martins é radialista, cursa jornalismo na faculdade UNG em   Guarulhos.  É blogueiro e colunista do Folhetim Cultural blog o qual criou juntamente com Magno Oliveira.

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