segunda-feira, 13 de junho de 2011

Extremos opostos da mesma periferia, Martinho faz o samba da festa e Emicida, o rap do protesto. Juntos, têm muito o que dizer


Roberta Pennafort / RIO - O Estado de S.Paulo
Cara a cara, o carioca (nascido no interior) Martinho e o paulistano Emicida não parecem separados por duas gerações. São artistas brasileiros, que pensam primeiro em música, depois em dinheiro. Querem agradar, sem se preocupar muito com as vozes que surgirão para atacá-los.
Wilton Junior/AE
Wilton Junior/AE
Cara e coragem. Rap e samba na mesma medida
Na conversa com o Estado, Martinho confessa que não conhece bem o trabalho do jovem, que chegou até ele por conta do convite do Rock in Rio - apesar de os filhos ainda crianças, os únicos que moram com ele, conhecerem suas rimas e samplers da internet.
Boa-praça sem qualquer afetação, prosa mansa e riso folgado, não tem tom professoral, embora dê (bons) conselhos, daqueles de quem "já viu esse filme".
Eloquente, Emicida, cujo vocabulário foi forjado por gente como Cartola, Candeia e Adoniran Barbosa, lembra um caso simpático: garoto na zona norte, era vidrado no LP de Martinho Canta Canta, Minha Gente, (1974), que a mãe cultuava. Um dia, deixou a bolacha pegar sol e pronto: a inutilizou. Ficou tão culpado que pôs na cabeça que assim que ganhasse algum dinheirinho compensaria a perda com um novo. Assim o fez.
Com o Cidade Negra e o curador do Palco Sunset, o músico Zé Ricardo, eles ainda vão definir o que cantar no show do dia 30 de setembro, que deverá ter músicas das três carreiras, além de surpresas. O bate-papo, com trechos a seguir, foi muito além desse repertório.
Rapper conhece samba e sambista conhece rapEmicida - Os rappers conhecem samba, usam muito a música brasileira, cada vez se aproximam mais. A gente está vivendo o primeiro momento em que o rap se expressa de forma mais brasileira. Nos Estados Unidos, os caras são fechados, mas ouvem um tamborim e ficam doidos. Pra gente, é muito natural misturar.
Martinho - O partido-alto é quase igual ao rap, são muito parentes. É a improvisação. Um refrão e você vai mandando... É tudo música negra. Jair Rodrigues cantando "deixa que digam, que pensem, que falem..." não é nada mais do que rap.
Emicida - E quando Jovelina Pérola Negra diz "eu sou partideira da pele mais negra"... E tem o samba de breque...
Se tivesse de improvisar com e como Emicida no show do Rock in Rio, como seria?Martinho - Improvisação tem um quê de hábito. Se eu for numa roda de partido alto hoje, tô meio fora de forma. Mas se vou noutra, já pego fôlego. Com você, se ficar um mês em casa parado, também é assim, né?
Emicida - Claro, é mais esporte do que arte! A prática vai fazendo a coisa mais fácil.
Martinho - Eu incentivei muito o partido alto, tanto que diziam que eu é que tinha inventado... Mas depois de um tempo, você já quer outra coisa. Hoje é a maior dificuldade, se eu vou todo mundo quer falar alguma coisa comigo.
Quando você começou, o samba tinha conotação política. Depois viroumainstream. Já o rap de São Paulo é eminentemente político. Como veem a questão?Martinho - O que se falava era que o samba de morro, tradicional, tinha uma conotação política. O compositor falava do trabalho, da vida. Já a bossa nova, que também era samba, não falava. Depois a Nara Leão fez essa junção. Os cantores que estão hoje mais em evidência são desligados, a intenção é fazer a pessoa pular, dançar, sem pensar muito. Estão preocupados com a comunicação. A gente tinha outras preocupações, era considerado poeta.
Emicida - O rap vem da necessidade de falar. Por isso não há sintonia direta com o funk do Rio, porque o que chega pra gente em São Paulo é sexista e violento. Mas o rap corre o risco de resultar redundante. A gente sabe da dor, mas também há alegria, não pode se tornar refém dos temas ruins. Às vezes penso que as pessoas ficaram presas numa ideologia. Alguns artistas foram criticados, tinham que explicar que a vitória deles era honesta. Faço minha música como sempre quis. Não dá pra se preocupar mais com críticas do que com o público. Se não você vai viver de prestar imposto de renda pros vizinhos.
O que estão achando desse encontro de música negra e de gerações?Martinho - No tempo em que eu surgi, era tudo complicado. As músicas eram setorizadas. Dificilmente sentaríamos eu e o Emicida. Tinha um público pra cada tipo de samba. Os artistas de peso se autoendeusavam demais. O artista com a projeção que eu tenho hoje, então... Não falava com ninguém. Isso porque gravar era muito difícil. Administrar sucesso é difícil. Você não tem que se preocupar com o resto...
Emicida - O rap, por ter vindo dessa base ideológica, muita gente viu como partido político, sem pensar na música.
Martinho - Já eu fazia muito esforço pra não ser enquadrado como cantor de protesto. É fundamental pensar na música.
Emicida - O que o rap fez em termos de temática não é novo pra turma do samba. Só que o rap em São Paulo plantou autoestima numa geração inteira.
Martinho - O samba foi muito marginalizado, sofreu preconceito e não foi preconceituoso. Quando começou a ganhar o espaço dele, aumentou a autoestima dos próprios sambistas. Hoje ainda, precisamos de ícones negros na sociedade. Quando tem um ministro negro, a negrada fica toda contente. Mas não é bom ter essa noção, faço questão de não ter. Sei o que represento para os brasileiros, só que finjo que não sei de nada. E já vi que você também é assim! Tem que ter pé no chão. Aquele pessoal do pagode paulista eu vi logo que ia se ferrar, e se ferrou...
Emicida - É importante ser honesto, e misturar, saber que a música é uma coisa só, todas as pessoas são uma coisa só.
Martinho - Esse é crânio!
***
Destaques do palco Sunset
1. Móveis Coloniais de Acaju + Letieres Leite & Rumpilezz + Mariana Aydar (dia 23/9). A mistureba brasileira abre o Sunset.
2. Mike Patton + Sinfônica de Heliópolis (dia 24/9). O líder do Faith No More
recria canções italianas.
3. Tiê + Jorge Drexler (dia 01/10). A paulistana e o uruguaio refazem a parceria que se viu no último disco da cantora.
4. Mutantes + Tom Zé (dia 2/10). O show terá faixas do novo CD do grupo.

Postagem: Magno Oliveira

Um comentário:

  1. PARA QUEM AINDA NAO VIU NEM SABE DO NOSSO GRUPOOlá muito bom dia também agradecia desde já que me ajuda-se a passar a palavra do meu grupo de trabalho ANIMA FESTINHAS ANINHAS se bem sabemos o melhor do mundo são as crianças por isso o nosso grupo prepara um dia cheio de grandes animações com todo o tipo de diversões Visite disfrute e passe a palavra a amigos conhecidos e familiares Site http://animafestinhasaninhas.blogspot.com/; HI5 http://animafestinhasaninhas.hi5.com/; Facebook: facebook.com/AnimaFestinhasAninhas; TWITTER http://twitter.com/animafestinhasaninhas e se existir alguma questão digam para o E-mail animafestinhasaninhas@hotmail.com; que nos respondemos Um abraço

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