sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Morumbieber


De: ROBERTO NASCIMENTO - Fonte: O Estado de S.Paulo Postagem: Magno Oliveira
Astro canadense leva 63 mil fãs ao estádio e mostra boa interpretação romântica em momento acústico

Pouco se compara à intensidade de 60 mil gargantas adolescentes clamando pelo galã teen mais famoso do mundo. Talvez o clímax de Assim Falou Zaratustra, poema sinfônico de Strauss, a trilha sonora de Psicose, ou o estilhaçar de mil vasos de cristal. Mesmo assim, a massa de agudos que tomou conta do Estádio do Morumbi neste sábado à noite certamente não fica devendo. O motivo do alvoroço tinha um metro e meio, uma franja tão famosa quanto sua voz e 63 mil fãs, de nenês de colo a tietes de 16, todos acompanhados de seus pais. Pouco antes das 20h30, uma contagem regressiva o anunciou. E goleiro rival nenhum, nos incontáveis pênaltis, faltas e escanteios cobrados no estádio, já ouviu um chiado tão desconcertante. Eis que surge Justin Bieber e sua gangue de dançarinos, ao som de Love Me, uma adaptação de Lovefool, sucesso dos Cardigans.
A canção é apenas o começo de uma longa lista de hits, produzidos pela nata do show biz, com o aval de bambas como Usher e a soberana gravadora de hip hop Def Jam, estrategistas da inesgotável popularidade de Bieber. No Morumbi, Love Me é nitidamente reproduzida em playback, deixando a sensação de que o menino é apenas um mico adestrado e altamente rentável, ao centro de um circo teen.
As coreografias também não enganam. De óculos escuros, Bieber marcha, dança, ajeita o casaco, agarra a virilha. Os passos são desengonçados como os de um potro que ainda não aprimorou sua vaidade equina. A testosterona que daria legitimidade aos movimentos de Michael Jackson está em falta.
Por essas e outras superficiais encenações do ritual pop, é inevitável subestimar Justin Bieber nos primeiros vinte minutos de seu show. Mas espere o gajo deixar de lado o frufru e sentar-se no banquinho, violão em punho, para cantar um trio de canções. De repente, a chama que arde nos 60 mil corações faz sentido: Bieber é um crooner nato. Seu vozeirão romântico, com toques de melancolia flamenca, sobra nas baladas e parece mal caber em seu porte franzino. Assistir ao seu set acústico é presenciar quinze raros minutos de talento bruto em um show pop, algo que nomes da magnitude de Shakira, Rihanna, Katy Perry e Black Eyed Peas são incapazes de oferecer.
E Bieber faz isso com sinceridade, revelando uma essência dolorida por trás de seu verniz amigável, que pode ser o estofo de uma carreira produtiva. Há também uma boa dose de carisma em sua persona. Cantando depois do dilúvio de sábado à tarde, o garoto disse confiante: "Eu ainda estaria aqui, de baixo de qualquer temporal, com vocês", causando mais um furor no Morumbi. Passado o trecho acústico, Bieber se veste a la trombadinha do clipe Bad, de Michael Jackson e, logicamente, o show volta ao pop coreografado e de playback.
Nestes momentos é mais válido refletir sobre a qualidade das canções, todas muito bem projetadas para seduzir a moçada, como Somebody to Love, Never Say Never e Baby, que vem no bis, do que o talento performático de Bieber. As produções foram a sacada milionária de Usher e seu parceiro Scooter Braun, que descobriu Bieber quando clicou por engano em um vídeo do YouTube que já circulava entre as primeiras Bieberettes, um público alvo que já ultrapassa de 600 milhões no YouTube.
Ao vivo, é comovente presenciar as lágrimas daquelas que ficam na primeira fila do alambrado. Trata-se de um ato de devoção tão inocente quanto fervoroso, capaz de fazer um adulto refletir sobre o que é realmente importante em sua vida. Elas se esgoelam, se arranham, se afogam em um vale-tudo adolescente. No ambulatório próximo à grade, a reportagem do Estado contou ao menos dez fãs que haviam sofrido de hiperventilação e outros males (andando pela plateia, uma outra desabou de supetão). De olhos marejados, Stefanie Martins, de 15 anos, assistia ao bis à distância. "Estou chorando, mas é de raiva. Tomei um soco na barriga, passei mal e vim parar aqui." Sua amiga, Carolina Sculante, sofria do mesmo mal. "Foi uma mulher, que estava socando todo mundo para botar sua filha na frente da grade", contou Stefanie.

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